Graça


Santarém, 1999

Igreja de Santo Agostinho da Graça, ou Igreja da Graça de Santarém, ou Igreja de Santo Agostinho, ou Igreja do Antigo Convento da Graça, ou Igreja de Santa Maria da Graça de Santarém.

É proibido fumar


Cabeço de Vide (Fronteira), 19 de Maio de 2008

O meu Alentejo



Eu não sei que tenho em Évora
Que de Évora me estou lembrando
Ao passar o rio Tejo
As ondas me vão levando.

Abalei do Alentejo
Olhei para trás chorando
Alentejo da minh'alma
Tão longe me vais ficando.

Ceifeira que andas à calma
À calma, ceifando o trigo
Ceifa as penas da minh'alma
Ceif'as e lev'as contigo.




Encontrada na página da Tuna Académica da Universidade de Évora, a letra de uma canção que a minha mãe costumava cantar, quando eu era criança, e de que eu gostava muito.

Letra de Bento Caeiro, música de João Camilo, interpretação de Luiz Piçarra (1917-1999), no filme Pão Nosso... (1940), de Armando de Miranda. Imagens retiradas, respectivamente, daqui e daqui.

Eu não sei que tenho em Évora


Templo Romano, Novembro de 1995

Foi a minha primeira viagem verdadeiramente turística, isto é, fora do âmbito dos passeios e férias familiares, a primeira vez que o meu pai consentiu (a custo) que eu me afastasse do alcance da protecção parental. Foi a minha primeira visita de estudo, a que na época chamávamos excursão, andava eu na 4ª classe, em 1978.
Foi ainda a primeira vez que fiz uma viagem longa de autocarro sem enjoar, que comprei souvenirs para oferecer e que fiz um diário de viagem. Foi numa agenda de bolso que o meu pai me tinha dado, com uma capa castanha, publicidade à Mabor, no interior, e muita informação ilustrada sobre o código de estrada, os sinais de trânsito, pneus e distâncias. Não sei o que foi feito dela; recordo-me de a ter visto durante anos, sempre que fazia arrumações.
Lembro-me da letra infantil e do relato minucioso da Capela dos Ossos. Logo à entrada, a inscrição dantesca: «Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos» -- foi o suficiente para a Cristina, uma miúda muito morena e tímida, se ter recusado a entrar (e a ouvir as nossas descrições à saída). Eu anotei tudo: as caveiras, a penumbra, os esqueletos de história sinistra. E a Igreja de São Francisco, a Praça do Giraldo, o Templo de Diana, o centro histórico (classificado pela UNESCO, em 1986), as explicações da Senhora Dona Maria de Fátima e os comentários dos meninos.


Vista da cabeceira da Igreja de São Francisco, Abril de 2008

A Senhora Dona Maria de Fátima era a professora jovem, meio hippie, que nos veio libertar da repressão da arcaica Senhora Dona Maria Amélia, que nos chamava ursas (às vezes esquecia-se de que, em 1975, tinham transferido alguns meninos para a Escola Feminina nº 7, que então passou a chamar-se Escola Primária nº 1 da Mina), borboletas, quando estava contente, que nos dava uma e só uma valente reguada quando nos portávamos mal ou nos distraíamos, que nunca nos ensinou a cantar canções de Natal (só O meu chapéu tem três bicos e Eu perdi o dó da minha viola), nem a fazer prendas para o Dia da Mãe, mas que não descansou enquanto não nos pôs a ler, a escrever e a fazer contas como deve ser, para o que chegava a usar momentos de acompanhamento personalizado.
A Senhora Dona Maria de Fátima foi uma lufada de ar fresco, com o penteado à Elis Regina, as maxi-saias e as túnicas, as novas metodologias, o picotado, o recorte de papel e as pinturas murais que coloriram a escola. Eu liderei um grupo que pintou uma versão feminina dos Pigs in Space, dos Marretas, que insistia em emergir das camadas de tinta pastel com que anos mais tarde tentaram devolver algum decoro à escola -- só nos conseguiram calar quando demoliram as salas de alvenaria para instalarem uns absurdos contentores. Não usava a régua, mas teve de gritar muito, para conquistar o nosso respeito (ou, pelo menos, a atenção). Porém, alargou-nos os horizontes, dos subúrbios até aos limites fronteiriços, e levou-nos, na nossa primeira excursão, a Évora.


Claustro do Colégio do Espírito Santo (Universidade de Évora), Abril de 2008

Posteriormente, voltei a Évora diversas vezes, em trabalho ou passeio, mas sem nunca me deter muito. É a sina do que nos está perto. No mês passado fui lá novamente, em trabalho e de fugida. Ainda tirei três ou quatro fotos, já no caminho de regresso, depois do que, vasculhando o meu fundo arquivístico, encontrei mais algumas, para juntar às mais recentes.


Cromeleque dos Almendres, 1998/1999

Portalegre aos quadradinhos



Ao contrário de Viana, Portalegre é o domínio da cal; azulejos há poucos e é preciso procurá-los. Estes, cacei-os começando na Rua Cândido dos Reis, descendo a Rua Garrett, continuando pela Rua 19 de Junho, um saltinho à Rua Primeiro de Maio, à Rua Dom Nuno Álvares Pereira e à Avenida da Liberdade. Haverá outros; hei-de encontrá-los. O primeiro dos que se seguem é um exemplar de revestimento interno de estação rodoviária de há várias décadas atrás (tenho encontrado os mesmos azulejos com alguma frequência).

Salamanca


Catedral de la Asunción de la Virgen (Catedral Nueva)

Na Semana Santa de 1999, de Ciudad Rodrigo seguimos para Salamanca, cidade universitária e monumental, com um centro histórico lindíssimo, classificado pela UNESCO, em 1988.


Clerecía (antiguo Colegio Real de la Compañía de Jesús)

Chegámos a meio da tarde, pelo que a luz já não era famosa para fotos, mas ainda pudemos apreciar parte da procissão, que, disseram-nos, dura quatro dias.







A cidade estava apinhadinha de gente. O pior foi quando pensámos que, sendo tão bonita, merecia mais um dia ou dois: podíamos dar mais umas voltas, picar mais umas tapas, continuar a seguir a procissão, dormir um pouco e retomar a exploração no dia seguinte. Pois.


Plaza Mayor

Quando começámos a procurar pensões, o mais que encontrámos foi letreiros nas portas: «Completo», «Completo», «Completo». Tentámos um hotel grande, desses de cadeia: o empregado da recepção sorriu e explicou-nos amavelmente que, durante a Semana Santa, sem reserva, era impossível encontrar o que quer que fosse. E em Ciudad Rodrigo? O mesmo. Se quiséssemos, podíamos continuar e tentar Ávila, sem garantia, ou então Madrid. Regressámos à Guarda, de onde saí meses depois (e aonde não voltei), e desde então ando à espera de uma oportunidade para voltar a Salamanca.
Uma coisa ficou de emenda: quando, este ano, resolvi aproveitar a interrupção lectiva para bater à porta do vizinho, fui depois da Páscoa.