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Ainda sou do tempo em que se chamava "elefante branco" ao Centro Cultural de Belém. Lembro-me da polémica que se seguiu à decisão da sua construção, que varreu todas as possibilidades, dos argumentos estéticos às questões financeiras, e que foi maior do que a que se levantou a propósito da construção ou remodelação dos 11 estádios de futebol para o Euro 2004.
O argumento principal para a construção do CCB foi a necessidade de um espaço capaz de acolher condignamente a primeira presidência portuguesa da União Europeia, em 1992, e, adicionalmente, a necessidade de um grande pólo de actividades culturais e de lazer na cidade de Lisboa. A meu ver, o tempo encarregou-se de esbater as questões estéticas (o Mosteiro dos Jerónimos não ficou nada incomodado e a pedra tem envelhecido muito bem) e de provar a importância daquele espaço para a vida da cidade e para a dinâmica cultural da cidade e do país (de que é o maior complexo cultural).
Desde o início, as valências do CCB agruparam-se em torno, sobretudo, do Centro de Reuniões, do Centro de Espectáculos e do Centro de Exposições, este último constituído por quatro galerias, destinadas a albergarem exposições de artes plásticas, arquitectura, fotografia e design. Chegou mesmo a existir um Museu do Design, com uma vida atribulada, que não cheguei a visitar. Andava de dia para dia, mas ora fechava, ora reabria, até que me informaram de que estava prestes a encerrar em definitivo, para dar lugar a um novo espaço para a colecção de arte moderna e contemporânea do comendador Berardo. O que eu não percebi, na altura, é que a Colecção Berardo iria ocupar a totalidade do Centro de Exposições, que assim deixou de existir. O que deu início a nova polémica.
Da minha relação com o Centro de Exposições do CCB, recordo, em particular, exposições ainda recentes, como Bodylandscapes de Rebecca Horn, em 2005, e Vida e Obra de Frida Kahlo e Conceitos para Uma Colecção, de Helga de Alvear, em 2006. Antes disso, muitas outras, como, por exemplo, assim de cabeça, de Gilbert & George, de Frank Lloyd Wright e várias mostras da World Press Photo. As exposições deste ano da World Press Photo, em Portugal, estão agendadas para Portimão e para a Maia. E há muito (mais) quem diga que Lisboa perdeu importantíssimos espaços para exposições - quem de direito que encontre agora alternativas. Mas, contas feitas, e por paradoxal que pareça, a cultura nunca ocupa lugar, e nunca é demais.
A criação do Museu Colecção Berardo de Arte Moderna e Contemporânea e a sua instalação permanente no Centro de Exposições do CCB encontram-se regulamentadas pelo Decreto-Lei nº 164/2006, de 9 de Agosto, que cria a Fundação de Arte Moderna e Contemporânea - Colecção Berardo.
O Museu abriu as portas em Junho de 2007, com o anúncio de entrada gratuita durante algumas semanas, que se estenderam a meses, depois até ao final do ano. Após alguma hesitação, lá me decidiu a gratuitidade e fui antes que acabasse, já em meados de Dezembro (afinal, as borlas vão prolongar-se até ao final de 2008).
A exposição permanente encontra-se organizada em torno de núcleos temáticos, como: Surrealismo e mais além, Picasso, 1929, Poder da Cor, Minimalismos, Pop & C.ª, Autonomia e Figura Reinventada, onde estão representadas mais de 70 correntes artísticas dos séculos XX e XXI. Ainda a colecção In Situ, composta por obras encomendadas especificamente para os espaços do Museu.
Visitei também a exposição temporária Caminhos Excêntricos. Jovens Artistas da Europa Central, mas, por uma questão de coerência pessoal, não visitei Um Teatro sem Teatro, cuja entrada era paga, como acontece já com outras exposições temporárias do Museu.
Como trivialidades, registam-se os mais de 250.000 visitantes nos seis primeiros meses, daquele que se gaba de ser o único museu aberto todos os dias.
O programa de exposições temporárias para o primeiro semestre de 2008 oferece propostas tentadoras. Quero ver se volto a passar por lá.
Para já, uma pequena amostra, seleccionada, sobretudo, em função da fotogenia decorrente das condições de captação da minha máquina (estupendo, isto de agora se poder tirar fotografias nos museus - o que não me tem impedido de gastar uma pipa de massa em postais).


Pedro Cabrita Reis (Portugal, 1956), Cabinet d'Amateur #2, 2001
MDF, ferro e acrílico sobre vidro, 33 portas standard: 6 x (116 x 229 x 12 cm); 27 x (125 x 248 x 12 cm)



Julian Schnabel (EUA, 1951), Portrait of Jacqueline, 1984
Óleo, cerâmica e cola sobre madeira



Paula Rego (Portugal, 1935), The Barn, 1994
Acrílico sobre tela, 270 x 190 cm



Clemens Stecher (Áustria, 1968), Cold Chain, 2007
Óleo sobre tela, 85 x 70 cm



Aino Kannisto (Finlândia, 1974), Untitled (red kitchen), 2004
C-Print sobre alumínio



Nan Goldin (EUA, 1953), Bruno Smiling at Valérie out of the Shadow, Paris, 2006
Cibachrome print
(sobreposição de sombras e reflexos da sala de exposição)


Na imagem do topo, podem ver-se pormenores das seguintes obras:
John DeAndrea (EUA, 1941), Arden Anderson and Norma Murphy, 1972
Óleo sobre poliéster, grafite, fibra de vidro
Andy Warhol (EUA, 1938 - 1987), Ten Foot Flowers, 1967
Tinta serigráfica sobre polímero sintético sobre tela, 304,8 x 304,8 cm

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