Peão



Diga você me conhece
Eu já fui boiadeiro
Conheço essas trilhas
Quilômetros, milhas
Que vêm e que vão
Pelo alto sertão
Que agora se chama
Não mais de sertão
Mas de terra vendida
Civilização

Ventos que arrombam janelas
E arrancam porteiras
Espora de prata
Riscando as fronteiras
Selei meu cavalo
Matula no fardo
Andando ligeiro
Um abraço apertado
E um suspiro dobrado
Não tem mais sertão

Os caminhos mudam com o tempo
Só o tempo muda um coração
Segue seu destino boiadeiro
Que a boiada foi no caminhão

A fogueira, a noite
Redes no galpão
O paieiro, a moda,
O mate, a prosa,
A saga, a sina,
O causo e onça
Tem mais não

Ô peão...

Tempos e vidas cumpridas
Pó, poeira, estrada
Estórias contidas
Nas encruzilhadas
Em noites perdidas
No meio do mundo
Mundão cabeludo
Onde tudo é floresta
E campina silvestre
Mundão 'caba não

Sabe, pr'um bom viajante
Nada é distante
Pr'um bom companheiro
Não cont'o dinheiro
Existe uma vida
Uma vida vivida
Sentida e sofrida
De vez por inteiro
Que esse é o preço
Pr'eu ser brasileiro

Composição de Renato Teixeira e Almir Sater, do álbum Doma,
de Almir Sater, 1982 (interpretada ao vivo, aqui; aqui, em
versão de estúdio, com uma tradução visual demasiado literal).
Imagem do filme Brokeback Mountain, de Ang Lee, 2005.

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